A recente série da Netflix “Adolescência” tem chamado a atenção por seu retrato sensível e realista sobre essa fase de transformação. Assim como, “13 Reasons Why”, essa produção reforça o quanto a adolescência é uma temática recorrente e relevante, que merece ser discutida com seriedade e empatia. Essas séries abordam questões como relações familiares, desafios emocionais, identidade e pertencimento, nos convidando a olhar para os adolescentes com mais compreensão e menos julgamento.
Do ponto de vista biológico, a adolescência é marcada por intensas transformações neuroquímicas e hormonais. O crescimento acelerado, impulsionado pela liberação de hormônios como estrogênio e testosterona, afeta diretamente a regulação emocional e o comportamento. O córtex pré-frontal, região do cérebro responsável pelo controle dos impulsos e pelo planejamento, ainda está em desenvolvimento, o que explica a propensão dos adolescentes a comportamentos impulsivos e buscas por sensações intensas.
Ao mesmo tempo, o sistema límbico, ligado às emoções e à recompensa, está altamente ativo, tornando-os mais sensíveis às experiências sociais e ao reconhecimento pelos pares. Isso justifica, por exemplo, a maior influência do grupo de amigos e a intensidade com que vivem cada situação. A oscilação hormonal também impacta o humor, contribuindo para mudanças repentinas de comportamento e maior propensão ao estresse e à ansiedade.
Diante dessas mudanças, a comunicação entre pais, educadores e adolescentes pode se tornar desafiadora. No entanto, em vez de enxergar essa fase como um campo minado, é fundamental vê-la como um convite à conexão. Estar presente não significa controlar, e sim acompanhar. Conversar não significa interrogar, mas ouvir com genuíno interesse. Impor limites não precisa ser um ato de oposição, mas de cuidado. Os adolescentes precisam de adultos que os enxerguem como sujeitos em construção, e não como problemas a serem resolvidos.
O caminho para essa conexão passa pela compreensão de que o desenvolvimento emocional e social é tão importante quanto o acadêmico. Promover espaços de escuta, valorizar os sentimentos dos jovens e acolher suas inquietações são passos fundamentais para fortalecer os laços.
Pais e educadores não precisam ter todas as respostas, mas podem – e devem – estar dispostos a caminhar junto. Afinal, a adolescência não é um período a ser temido, mas uma fase rica de possibilidades, em que relações saudáveis e afetivas fazem toda a diferença. Como nos mostram essas séries, as histórias dos jovens são complexas, mas nunca estão escritas sozinhas. Que possamos ser personagens positivos nessas trajetórias, oferecendo segurança, apoio e, acima de tudo, presença.
VIVIANNE AMARANTE – COORDENADORA PEDAGÓGICA